agora eu chupo coices,
outro dia me disseram
que mesmo quase velho
parece que tenho ainda
meus vinte e oito anos.
saturno só volta uma
vez,
pensei lembrando a
idade
em que devia ter
morrido.
no destino de um
saturno
que agora não volta
mais.
de lá pra cá não teve
um dia
em que dinheiro não
fosse
o assunto do dia,
principal
ator da noite: pessoas
boas
não têm dinheiro, eu dizia
sem ser bom e sem
dinheiro.
agora cabelo virou
moeda
uma força estranha
tornou-
me apto a usar a expressão
força estranha sem ser
rei.
longe da catapulta, o
tônus
cospe no olho da
inocência
que ainda estica meu
rosto
me lembrando aqui saturno,
aquele pai caixeiro-viajante.
pai este que, ao retornar
bastante decepcionado,
fez rachar a ampulheta
e meteu o pé na
estrada.
aqui estou, vejam
vocês,
dez anos depois do que
pareço agora, abusando
de rimas bem canalhas.
em apagamento sonhava
com um sol esplendoroso,
bola de fogo toda minha.
um dia apavorei o fogo,
arregalei-me e desesperei
porque o sol era
horrível
e agora ele era todo
meu.
perco cabelos, ganho asas,
sou cada vez mais parecido
com aquelas águias
feias
tão bonitas nas
bandeiras
das nações
autoritárias.
recompõem-se
o fígado,
disseram-me uns também.
quando eu disse no entanto
fumo
feito uma locomotiva,
disseram não se preocupe,
pulmão
é morte mais lenta.
rio e faço planos que
se apagam
no decorrer de um dia
capitalista
que me empurra na carne
moída,
na farofa que trago em separado.
não são estupendos os
planos
daquele que só tem um
dia.
o mais improvável de
salvar
uma vida perdida é ter
vida
que valha a pena ser
salva.
olho meus companheiros
neste western mal pago
em que chocamos esporas
mas que ninguém impôs.
relíquias do fim do
mundo,
é como prefiro vê-los
todos,
mas os abutres que
rondam
também são meus primos.