se alguém morre aos
trinta,
nós nunca saberemos
comoa pessoa seria aos cinquenta.
e se morre um escritor, um poeta,
– de quem se diz escreve à pampa
para alguém tão jovem assim –
então, numa rápida guinada
de cabeça em meio ao incêndio
que chega lambendo nossos pés,
cada vez mais perto e arrancando
frutas verdes belíssimas perdidas
porque só servirão para imaginar
um escritor desse aos cinquenta,
cercado por jovens desesperados
loucos para atingir essa rapidez,
voo raso que passaria arrancando
os chapéus das senhoras nas ruas,
os charutos dos rancorosos tristes,
mas aos trinta não se pode imaginar,
nossos pés, reparem, estão em chamas
e a vida que levamos se mostra todo dia
e ela nunca é uma progressão estimável.
mas com cinquenta seria a calma ocre,
o júbilo meio cansado das premiações
– de fato disso escapastes ao menos –
e ficará essa marca agora em nossos
cumprimentos quando nos virmos
passando pelas ruas ou nos bares
por um triz, olhando para os lados,
sua ausência nos incrimina por não
mover um pensamento e como está
fulano, será que todos estão felizes?
talvez depois dessa, victor, a gente
finalmente pare um pouco de projetar
nossos espaços impulsionados
por um saudável olhar crítico
e passemos a reparar atentos
nos nossos pés em carne viva,
no que o fogo desavisado
tem causado em nossos nervos,
sem ocultar a carne doce da desistência
que atinge a cada um como uma pedra
e em cada um do seu jeito pode ou não
carregar a pedrada, recolher a pedra,
trazê-la de volta ao muro dos sentimentos.
não direi mais, ao encontrar um amigo,
entre os mil poetas da cidade em choque,
que lindo poema ou que linda plaquete.
direi que lindo fogo debaixo dos teus pés
e ele dirá o teu eu vejo em brasa estável,
então saberemos a hora de estender a mão.