19.3.16

"deirdre"





a puta ancestral,
coração estilhaçado,
mataram com punhal
teu lindo namorado.

e tu agora vives nua
nas planícies verdes
do meu sonho celta.

tua mitologia ruiva
rosna feito um cão,
a carne que deseja
o crime do palato.

a boca assassina,
rock n’ roll suicida,
entranha de deus,
linda e desbotada,
esmalte descascado,
como cada um de nós.

a puta ancestral,
coração estilhaçado,
mataram com punhal
teu lindo namorado.

“a propósito dos últimos acontecimentos”





aqui estamos nós, os cercados, mais uma vez.
somos outra vez os sionistas dos anos trinta.
somos outra vez o rapaz de vermelho linchado.
somos outra vez a quenga que deve morrer.
somos outra vez o veneno dos dentes podres
de velhos eunucos e suas mulheres cocainômanas.
somos outra vez os curdos no topo da montanha.
somos outra vez a execução do nariz de palhaço.
somos outra vez a gangrena violácea do apuro.
somos outra vez a tremedeira do ser em pânico.
somos outra vez o caminho dos beligerantes.
somos outra vez, vai acontecer outra vez ainda.
somos outra vez os caracóis debaixo da pedra.
somos outra vez a beleza do grito avacalhado.
somos outra vez a memória curta dos umbigos.
somos outra vez as mulheres com o grelo duro.
somos outra vez a parabólica viral do coisa ruim.
somos outra vez os cães de bandana vermelha,
sangue vermelho dos cães de bandana vermelha.
somos outra vez os corredores salivantes do ódio.
somos outra vez, há quinhentos anos outra vez.
somos outra vez a vergonha daqui a trinta anos,
um sísifo quando baixa a guarda e cai de queixo.