é
apenas pela minha vaidade que escrevo estas linhas.
isso
é mau para os meus méritos, mas é bom admitir.
é
algo de bom admitir que não se alcancem os méritos.
pois
acabo de retornar de um curso meditação no mato.
é
algo incrível e muitas vezes eu me perguntava se era
eu
mesmo andando com os braços para trás no mato
enquanto
caminhava do refeitório à sala de meditação
olhando
para o chão para não matar nenhuma formiga
ou
se aquele rapaz era quem eu gostaria de me tornar,
um
rapaz que não fuma e não bebe e não enlouquece.
nessas
horas é um pouco difícil estar num curso assim.
porque
você fica com a dúvida até mesmo se aquele
que
gostaria de ser aquele outro, no meio do mato,
mãos
para trás e sorriso no rosto, se é aquele mesmo
ou
se ainda um outro, este sim, que talvez faça tudo,
mas
que parece um pouco longe quando me apercebo
que
voltarei a beber e a fumar e a enlouquecer ainda que
saiba
a coisa certa a se fazer e aquele que gostaria de ser.
mas
memórias não podem ser apenas as fotos tiradas
no
fim do curso quando podemos outra vez falar e todos
de
certa forma voltam à normalidade que é a tentativa
impossível
de se limpar de todo mal de um mundo louco
e
ao mesmo tempo é bonito que se tenha a quixotesca
avaliação
absolutamente submersa de que é possível
ser
mau, melhor a cada dia e que sou eu aqui de mãos
cruzadas
andando no mato e sorrindo ou então aquele
que
gostaria de ser aquele outro no mato, no entanto
bebe,
fuma, acumula toxinas, enlouquece de paixão,
quando
sabemos que a paixão é algo fundamental
para
manter este mundo girando da forma como é,
como
alunos bondosos tirando fotos depois do curso,
mas
memórias não podem ser apenas as fotos tiradas,
a
roda da vida deve passar sobre a marca da morte.
eu
sou este que fuma, bebe, se alucina com drogas,
eu
sou este que não fuma, come frutas, fica por horas
sentado
observando a natureza da própria respiração
e
pensando em como tem acumulado marcas mesmo
sabendo
que não deveria acumular e talvez sabendo
como
poderia fazer para não permanecer acumulando.
eu
sou este que pensa que este não pode ser eu, apenas
alguém
que outro que não eu gostaria de ter sido e digo:
é
apenas pela minha vaidade que escrevo estas linhas.
isso
é mau para os meus méritos, mas é bom admitir.