26.2.14

"senhor"




é possível esperar muito mais, senhor?

esperar quando disse a mim mesmo:
hoje farás teu dia dessa e daquela forma,
e agora um pelo de cachorro no sofá preto,
uma pena de travesseiro no sexo da vassoura,
um pterodátilo dentro da minha máquina,
e por esses e tantos outros deslizes,
por tudo que tece o fio da circense trama,
por isso terei que esperar, mas é possível,
senhor é viável esperar por um minuto?

veja bem, se não se planeja nada,
se um está diante do vento que sopra,
então tudo bem,  que espere tranquilo,
é sua função, viver da esperança de sorte,
de um bom vento e de boas marés.

mas se um sujeito acorda determinado,
com vigor e disposto a se livrar de vez
dessas caixas feito casas de aranhas,
então é preciso uma colher de chá,
uma pressa solícita, é tudo que peço
do senhor, seja lá quem o senhor for.

24.2.14

"minha vida"


com a vida que tenho, a vida que levo,
não me cabem as resoluções.
estou distante das singelas paragens,
dos suaves abismos daqueles
que pretendem algo na ignorância
de uma impossibilidade vital.
sobre mim, por toda essa vida,
caíram os infortúnios nobilíssimos
daquilo que não se completa,
do que não tem futuro aqui,
do que não estará em breve comigo.
haverá algumas almas, no entanto,
que me darão um sinal, ainda que
hesitante, de que pode, sim, haver,
de que talvez haja uma esperança,
talvez haja algo a ser completado,
um descanso palpável do que foge
escapando pela tangente do espírito,
dando-me uma pesada de carinho,
empurrando-me ao próximo engano,
este tão certo quanto o fim do reinado.