22.7.11

"pequena canção para Dmitri"

ah mas eu queria acabar como você: um patife, mas não um ladrão!
uma nobre inteligência que, de nobre, acaba jogado de lado a lado,
convulso em ideias romanescas, puxando barbichas pelas tavernas,
oh gritando em altos bardos as dores de uma era que se aproxima,
porque você já não pode mais apenas ser o apaixonado, eles agora
exigem que toda paixão seja louca e então somos loucos, que seja,
porque nossa natureza sem Hamlet já não cogita mais os cinismos,
sabemos somente dos bares e dos sentimentos populares dos reles,
não interessam os dois abismos sobre os quais passa nosso arame,
vacilamos e por issos somos deus, pois no vacilo está a velha suma,
o romance máximo da vida com pernas tortas, as lágrimas invioláveis
daqueles que são a marca do chicote e das casas de velhas gordas,
mas largaremos os chicotes e seguiremos, inanes, as lavras de ouro,
e mesmo que nosso arrebatado charme tenha se escapado em face
ao hemorroidal semblante do agora, ainda saberemos bradar, e mais,
saberemos rir, pois nossa desgraça é o riso dos homens sem deus.

10.7.11

"não é felicidade"

você me entrega a felicidade
mas quando ponho as mãos
por trás da nuca feito louco
não sei se é felicidade o que
preciso, ou daquela dureza
de não se saber se pode ser
felicidade um amor tão cheio
de invisíveis parâmetros,
signos sem interpretação,
apenas para ficarmos pasmos,
pensando: é, não é felicidade.