se ao menos eu fosse um desses fabricantes de canções de ninar,
eu seria aliviado, quem sabe, da minha dor no intestino delgado,
que de certo é pela tristeza ao ler minhas canções despedaçadas,
e quando as meto no papel a mim serão perfeitas, pouco importa
se a morte se concluiu em gelo da montanha e tinta desperdiçada.
quando as meto no papel pouco importa, sem pé, mão ou cabeça,
elas irão aos olhos sem aviso e, já quase sem ternura, sem licença,
farão dormir a besta dura e sua presença trará quem sabe um riso,
alguma crença, mas suo feito um porco-príncipe, é inútil a crença.
se ao menos eu pudesse fabricar a mais simplória canção de ninar,
ah eu dormiria para sempre, com o riso leve dos que sabem dormir.
mas sou pobre e tenho fome, tenho medo de morrer no longo sono,
nada me resta além de arder em brasa, acordar a canção com fogo,
pois que sou operário de um tempo sem descanso para olhos vivos:
posso apenas contemplar minha criação através de seus escombros.
12.2.11
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