cogumelos dissolvem na viagem lúdica
a solidão residente na vontade de viver.
vontade de viver é hoje uma expressão
canhestra, assim como hoje é canhestra
a palavra canhestra e o amor romântico.
sozinho gosto mais de ouvir joão gilberto
do que acompanhado, pois sozinha é a voz
– sempre ao vivo – sob a foz do limite zen.
argumentos encaixo em músicas para victor
e tomo finalmente um cafezinho sem açúcar,
pois que a vida sem açúcar é uma vida adulta.
no bairro peixoto a vida é adulta e sou adulto.
peço amavelmente um cafezinho sem açúcar,
inclusive pago a conta por trás de um sorriso,
para que o jovem garçom pense: é um adulto.
sou adulto – entorto a face enquanto a língua
imparável resvala o ápice do amargor, afinal,
esta é uma face adulta, num rosto sem açúcar.
durmo em muitas casas, camas, sofás bonitos,
tenho amigos e amigas, mas não posso agora
que me entendam nem sequer que possam ter
uma chance de operar anseios em meio ao pus
que reluz na doçura de um mau hálito matinal.
afastado da vida vulga por loucura, irei de bus
até sampa, dar uma volta com os surrealistas,
rezar aos deuses antigos descalço no trianon.
ver o lobo, diogo porra, calixto, aye, januário,
julia linda sempre, camila kiddo e tantas caras
ainda não vistas que verei com olhos de comer.
poetas proletários preenchem meu fraco coração,
orgulhosos das solas gastas e das camisas escuras.
decepcionados, nunca cabisbaixos, às vezes riem,
e quando riem seus dentes faltantes enchem o céu
de ternura e de uma lentidão que torna a vida fácil.
encontro prosadores e prosadoras da secreta palavra,
pessoas que gostam de caminhar: penso num passeio
com leo alice marília manacorda ana elvio paulinho
carol dirceu leo chagas negro leo e se aqui estivesse
o carlos orfeu comigo eu diria carlos orfeu monange.
um beijo na testa da zil com pequenas implicâncias
de um amor tão esquecido que é preciso se lembrar.
sonhar à noite no coração da máfia dos sentimentos
com arranha-céus de paz e sacrifícios sem punição.
crer num futuro promissor fora dos eixos, no poder
das conexões mais sutis entre os seres sob a terra.
porque nem tudo que prende segura, à noite a lua
se encheu de sorrisos e prefiro a faca, a lua turca,
uma bússola para se achar também para se perder.
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