23.10.16

"poema para uma cigana"


oh o tempo todo eu me torno mais pálido eu morro e eu só penso
em você       
eu estou desesperado como se fosse o tom zé diante da gal costa
sem você
disseram que eu estou fedendo mas não é verdade eu estou triste
sem você
disseram que eu fui grosseiro na fila do banco mas foda-se o banco
sem você
eu vou deixar uma bomba na porta do banco mas continuo no entanto
sem você
te mando esta carta sem a menor esperança de que um dia você
possa ler
para entender que meu mundo não faz o menor sentido
sem você
e que só faz sentido aquilo que não faz sentido
porque
eu sem você me torno um terrorista sírio um coroinha de igreja mas
com você
eu ganho garras eu ganho setas eu ganho penugens asas nas pernas
com você
me torno the flash o incrível hulk o moisés maomé ivan o terrível
com você
eu ganho poderes místicos e recolho o louco no centro das cartas
com você
eu quero andar pelas calçadas das ruas e morrer nos teus braços
porque
você precisa perceber que eu sou você sou eu e somos todos nós.

17.10.16

“gena rowland”




aqui você não pode
falar como falam
os seus ancestrais.

aqui você não pode
urrar como urram
os homens de deus.   

aqui você não pode
calar como calam
os pais amorosos.

aqui você não pode
contar com os machos
da mesma espécie.

aqui você não pode
dizer que me ama,
mas também dizem
não pise na grama.
eu deito nela por você


10.10.16

“porque já não é mais algo simples”


o sangue é nosso tabu, dizemos ao acordar
e nossa dança é um grito esfarrapado
de sorrimos-cantantes-nas-labaredas
porque todos os dias é o mesmo
tabu do sangue, uns dedos inquietos
que não podem mais se beliscar nos bolsos
bucetas e paus lacrados pela repulsa ao sangue
que se acomoda sempre do lado certo da opinião.
andamos lacrados e pedintes de cara fechada
ou então a loucura agridoce do ser em demasia
porque o sangue é nosso tabu
morremos sem sangue, mas não queremos vê-lo
ruíram as nobres pedras de nossa primeira aprendizagem
patinamos agora sobre as lâminas de novos cumes
ainda em estado de veneno e aparição
e sedentos por uma estrutura mensurável.
o “ao redor” é cômico quase como uma abstração
estás ali também, no “ao redor”, desaparecendo
porque carregas o sem sentido benévolo da continua voragem
porque tens um sorriso de chumbo
porque colecionas sacos plásticos –
porque já não é mais algo simples
viver e ouvir a música.