pílulas questionam
meu canto puritano,
incham meus passos
com sangue adverso.
os gatos se esfregam
com a feia burocracia
de um plano de saúde.
se eles soubessem,
talvez lentamente
soltariam um longo
suspiro de humano.
todos somos derrotados,
os vencedores bem mais.
isso dá alento, para além
do fim da nossa espécie.
a fatal presença soberana
do corpo, diante da
mente,
a mente que pensa mundo
mas vive dentro do corpo
que é cego, surdo e mudo,
e dura menos que a gente
evoluída no corpo-a-corpo.
sou um boneco de
ventríloquo
que faz rir um doente
terminal.
lavo hoje a pia intacta da
sorte
e não os pratos sujos do
desejo.
aqui de joelhos no tapete
do caos,
sobrevivo com uma bola na
mão
e todas as minhas armas
no chão
fazendo pazes no coração
deserto.
com essa bola eu crio um silêncio
imenso como um dia foi nossa
fé.
redonda, ela cabe entre
as mãos.
na direção dessa bola
perfeita,
as bolas dos olhos só
esperam
o som do rugido do pano
sujo
quando a bola penetra o sonho.
no bandejão das nossas
almas,
duas mãos se erguem no
vazio.
deram tudo que podiam
apenas
para ter um instante
geométrico:
entre o coração, as mãos,
a bola,
na manhã que preenche o medo
de expectativas afora e adiante.
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