a
uma certa professora radical
se teu pai não fosse um
peão,
não poderíamos, nós dois,
ser amigos, eu nem mesmo
falaria contigo, eu
pensaria:
outra paulistana de
família.
mas teu pai fala muito
pouco,
veio do líbano cortar a
cana
que as pessoas que detesto
bebem para saciar sua
sede
pequena pela existência nua.
não quero aqui falar do
teu pai,
mas vais logo ver que
sempre
falo dos pais homens, os rudes,
os perdidos em meio à pólvora
da vontade de comer e de beber.
quando espocou a estrela
fria
do teu desespero inteligente
sobre a nuca do meu
fracasso,
me escondi por trás da fúria
que muito me ajuda na
hora
de arruinar a luz
assustadora
que desvenda nossas carnes
e inaugura a lama da intenção.
como amar alguém através
do pai desse alguém, um
que
não se sabe e vem de
longe?
como amar alguém pelo pai
se nem mesmo posso amar
meu pai, tão perto de
mim?
líbano é longe da minha cruz
como a cruz é longe de
jesus.
serei, diante da falta de
chão,
a escada da tua prole
antiga
que vem atendendo ao
grito
e arrasta os cumes do
mundo.
quero apanhar e ser cuspido
na Escola Normal Superior
do teu cheiro de terra
fértil
com o risco de ilusão e
fogo.
serei, diante do Grande
Salto,
aquele que, agachado,
conta
as mil pistas do bom
futuro
nas mil pintas do teu
corpo,
como o condenado à morte
rabisca seus dias na prisão.
serei,
diante da impossibilidade,
um
caminho pedregoso de alegria
até
o teu pico de luz e sombra rasa:
sonho
em que se anda por lugares
agradáveis
não fôssemos os cegos
impedidos
para sempre de chegar.
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