6.1.21

“verão gelado de poemas bonitos”


a noite enforca os parapeitos

dentro da cidade, também no mato

alguém se move lentamente

sobre a fina dúvida de um suspiro.

 

alguém no fundo da lenda do encontro

encobre de gelo uma parada de ônibus

e as luzes emagrecem sob os holofotes.

 

é frio quando qualquer um pode

– num segundo e muito embora

permaneça a cabeça no pescoço –

desaparecer do árduo convívio.

 

mais estranho é o que diremos quando

o improvável que nos ronda acontecer:

isso é absurdo, não suporto, morrerei.

mas dias depois ancoraremos bombas

em portos repletos de fascínio em pó.

 

é sempre frio quando a noite enforca

a euforia dessa lembrança em delito

quando, contaminada, delira a sorte.

 

vejo brilhar os olhos que derrubam

as manhãs por trás de uma película

que aborta a luz de um sol anêmico.

 

somos uma gangue de medrosos

que desejam a coragem coletiva

mas entregam parágrafos de aço

nos desvãos de uma poesia curta.

 

quero rasgar o casaco em busca

do osso de uma alegria pequena

para lamber o medo e confortar

a paz sem olhos de um verso nu.

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