8.1.21

“o incontrolável coração de leonardo fróes”


estou cansado e forte e penso no meu xará

com alma confuciana e canelas esdrúxulas,

um samurai, inclusive, com olhos puxados

e um milhão de anos na carcaça de um pã

que nunca, em tempo algum, pude encontrar,

enquanto anos a fio sonhei com a ideia

de ter qualquer espécie de sábio guru

sem breguice e que pudesse me dizer:

leonardo faça isso, leonardo vá por aqui,

e que sobe em árvores crespas e explica

cada órgão de cada filho verde de deus

como, enfim, o sonho de uma criança

também de olhos puxados e aquariano,

também uma tentativa, com mais medo,

de entender maneira de frear o que é ruim

e amar os mais novos conforme a tartaruga

pode amar suas centenas de ovos, um a um,

e enfrentar a maior travessia da sua vida

rumo a destino incerto, sinuoso desfecho,

um animal antigo que ama o suficiente

para fazer o que não é possível e por isso

completa a jornada como um pai, um filho,

como um ciclo vivo de carne e muito osso,

mandala refletida em dentes e compaixão,

um que sabe que nos sonhos não se dorme,

que o mal acontece e todos podemos ver,

mas dentro do órgão de cada fruta ele vem,

inquieto, uma criança de um milhão de anos,

com quem se aprender que quase sempre

a estrondosa derrota é verde como o perdão.

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