3.5.20

“no dia do teu aniversário”



quero manter a criança viva,
levando o adulto pela mão.
escuto os mantras matinais
que vêm de uma voz doce.
penso na voz agora morta,
se era doce ou se era firme
ou se era a voz que dizia:
meu filho, não faça isso
com tua vida, estou aqui,
tu não te lembras de mim,
mas eu estou aqui, escuta?
a tal criança morreu no dia
em que não enterrou a mãe.
os adultos vieram depois
com sustos e votos úteis
para pisar firme a estrada.
bebi vinte anos tua morte
e quase me esqueci de ti.
mas hoje sei algo bonito:
os espíritos não morrem.
meu corpo então padecia,
mas a voz que eu esqueci
me dizia: estou viva aqui
no olho do esquecimento,
no buraco da tua falência.
sem ser criança ou adulto,
sigo à procura do teu luto,
para ouvir a velha cantiga
e criar outra vez tua voz.


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