1.5.20

“mãe maleva”



quando estou triste e nada resta,
muito resta, mas não posso ver.
então fecho os olhos, não posso
arrancá-los, eu tenho que viver
com o que eles já viram e o que
esqueceram e era fundamental.
é feia a cabeça do meu passado,
chupa limo minha mãe maleva
na sacada suja do esquecimento.
emparedado dentro da ausência
mastigo a planta do meu sonho
na prece de pesadelos heroicos.
quando sou ruim com o mundo,
o mundo termina, então começa
a febre ruidosa de uma criança
sem cabeça que precisa beijar.
mas não se beija sem a cabeça,
explodo vontade pelas canelas,
aceleram por dentro das veias
a natureza exata dessas falhas.
a mãe maleva que traz o verso
e rasga a roupa e perde tempo
é quem me mata depois avisa:
ouvir com os ouvidos de ouvir
a canção popular dos isolados
é a única forma de trazer aqui
a chande pequena de um fado.


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