22.11.20

"o júbilo da marcha"

para adelaide ivánova

 

com coração em jejum

animo os ponteiros

de uma bomba-relógio.

 

com paz de cimento

afio um raquítico

faqueiro de promessas.

 

com um assombro nu

o mofo aduba a vida

guardada numa outra

imensidão – crescida

para dentro como as

pálpebras da saudade.

 

com uma fé de chumbo

os cavalos da memória

agora boiam na lagoa

dos meus olhos – aqui

a esperança é um padre

na cama da compulsão.

 

não esqueci, contudo,

que no escuro há som.

não deixarei, entanto,

que no raso falte água.

e que na água, os seres,

e que, nos seres, amor.

 

amor eu não sei dizer,

mas faço, perdido faço.

e marcho sem as botas,

e marcho, porque vejo:

ali tremem mãos e pés,

na direção do comum.

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