a língua é uma casa
grande e desconfortável.
hoje a lua está bonita,
parece que vai passear
ou namorar na mureta,
ou pular de uma ponte.
hoje a lua está perfeita
para fazer um mau poema.
melhor seria se fosse
esta uma tristeza séria,
não uma tristeza mortal
mas uma que brilhasse.
uma tristeza que fosse
feita de comédia e saliva.
tristeza risível e linda
como toda fatalidade,
feito o sol suplicante
nos olhos da chacina.
procuro o mau poema
para uma lua prostituída.
aqui vou eu, eu poderia
dizer apenas isso, sim –
depois escreveria febril
o poema feio prometido.
engraçada a vaidade:
se tudo que faço é bonito.
uma lua nunca é fiel:
quando se quer foder
parece um coelhinho.
mãe das águas de sal
que entopem as veias
e arreganham os
orifícios.
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