4.7.23

"galos"

nothing is too wonderful

to be true

michael faraday

 

 

você reclama que eu nunca escrevo

nada que traga o seu nome dentro.

é verdade, acho que quando olho

você vejo as coisas que eu tenho,

mas não gosto, tenho medo de ter,

são mais eu do que quero de mim.

 

é possível amar aquilo que espelha

nossas mais límpidas imperfeições?

acho que você também se pergunta

isso quando pensa em mim, é como

usar uma isca que é também o peixe.

 

eu amo a armadilha do nosso amor

porque você é um perigo que trago

na costela do mais violento abraço.

talvez eu nunca consiga te embalar,

como você faz comigo aos sopapos,

pois vejo a cratera no topo da crina

que nos torna galos de abate lógico.

 

nos conhecemos aos prantos, a vida

tem sido essa jornada úmida de luz.

resgatamos a cada estação corações

sufocados pelo cansaço de dizer sim.

 

acho que não sabemos quem somos

e precisamos de um amor definitivo.

necessito me furtar ao ódio de mim,

às vezes é difícil não ser despejado.

 

que avance nossa jornada carmesim,

que possamos lamber feridas podres,

aceitar o que trazemos já como sina.

e baixar a crina, ferir o beijo na testa.

 

Um comentário:

m.r.mello disse...

Belíssimo poema. Porrada (espora no espelho) de galo índio, como os que criava meu avô.