16.1.23

"as crianças vermelhas"

para ana botner

 

gosto de me instruir com adolescentes,

as pessoas por quem tenho mais afeto

variam entre quinze e vinte e cinco anos.

 

as crianças menores, que hoje são como

miniadultos, adultos anões ou bonecos,

estas desconfiam de mim porque nelas

já estão os olhos de águia do usurpador.

 

devo ter uma alma muito pobre para que

tantas crianças entre cinco e quinze anos

me olhem com desconfiança e até medo.

 

os adultos, a grande maioria, são crianças

com pés grandes e mais pelos, que sabem.

então com eles é uma guerra de sabedoria

e eu quase nunca venço uma guerra assim.

 

mas a minha maior devoção vai às crianças

que vivem antes da palavra, que são olhos

expressivos e comunicantes, que são bocas.

 

elas querem me falar o segredo do mundo,

eu sinto quando as vejo em colos veteranos

que elas querem me ajudar, que elas sabem

o que nos traz até essa tristeza tão tranquila.

 

é nos olhos dos bebês de colo que achamos

o coração do comunismo sem partidarismo,

por isso os pais furam os olhos das crianças.

 

e mesmo cegas seu ódio será a trilha da paz

no centro de um furacão hormonal de caos,

com cadernos vermelhos debaixo do braço

e a supernova usurpada na ponta da língua.

 

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